Sessão de Caboclos do dia 19 de Janeiro de 2019. Homenagem a Oxóssi  


Mensagem do Caboclo Sete Flechas em sessão de Caboclos do dia 19 de Janeiro de 2019. Homenagem a Oxóssi  

Graças a Deus.

Mais uma vez nos reunimos em nome de Jesus, mais uma vez nos reunimos para a prática mediúnica de terreiro dentro do ritual da religião de Umbanda, religião que os filhos escolheram como diretriz espiritual, hoje especialmente em nossa primeira reunião do ano, na abertura dos trabalhos em homenagem ao orixá Oxóssi para, a partir de hoje, termos nosso compromisso semanal de orientação, de convívio mais íntimo que a incorporação permite. Que através deste reencontro, possamos fazer nosso “re-batismo” nos trabalhos espirituais fazendo uma reconfirmação do compromisso de sinceridade, de humildade e de obediência para que, enquanto umbandistas, possamos aprimorar nossa jornada no mundo Terra.

Importante temos a obediência em nosso vocabulário, não só o vocabulário que se expressa verbalmente, mas principalmente em nossa atitude perante tudo o que a vida traz. É importante que os filhos observem como cada ser humano é um universo dentro de si; as mesmas forças que habitam em um também habitam no outro, mas de acordo com a mente que habite aquela estrutura mental, sua ação e sua observação do mundo, seu modo de lidar com as coisas á volta, inclusive com a divindade, muda de acordo com a sua capacidade de entendimento e é importante que tenhamos esta noção para que nosso julgamento possa ser menor do que a nossa capacidade de entendimento e de perdão das criaturas à nossa volta, pois a cada vez que julgamos de mais tendemos a amar de menos e é importante que saibamos amar através do respeito, da compreensão para que possamos, com o amor permeando nosso olhar, termos o julgamento mais adequado às situações e às pessoas.

Muitos de nós acordamos com o oxé de Xangô nas mãos gritando por justiça, mas nos esquecemos de que a justiça que aplicamos ao outro precisa ser aplicada em nós mesmos. Acontece que o olho com que olhamos o nosso semelhante nem sempre é o olho com o qual nos olhamos no espelho; tendemos a nos olhar com mais complacência, porque não nos conhecemos. Na medida em que abrimos o nosso conhecimento sobre nós, conseguimos perceber que o que nos liga com o nosso semelhante é justamente a nossa humanidade e é dentro da condição humana que precisamos estar juntos e sintonizados para percebermos que pertencemos a uma mesma linhagem de crescimento. Cada um dentro do seu tempo, mas todos evoluindo porque o tempo não para e nem espera por ninguém.

Quando mudamos o nosso olhar e usamos o mesmo olhar que temos para o outro para nós, nos percebemos irmãos. Passa que alguns irmãos são mais velhos que outros, mesmo irmãos gêmeos tem diferenças de personalidades e de atitudes, daí é importante percebermos e buscarmos o respeito e induzir nosso semelhante ao progresso, mas cada um percebe o mundo à sua própria capacidade de entendimento e por isto muitas vezes distorce a visão que tem do mundo para satisfazer a miopia de si mesmo.

Certa vez um homem, um viajante passava sempre pela mesma paragem onde havia uma casa, uma janela, uma porta e uma árvore. Passou neste lugar no verão e viu a árvore dando sombra prodiga no quintal; passou no outono e viu esta mesma árvore repleta de frutos a oferece-los a quem os alcançasse; passou neste mesmo lugar no inverno e viu a árvore despida como se a vida lhe tivesse fugido, passou na primavera esta mesma árvore se embelezava de folhas verdes e de flores.

Passou o tempo, mandou que seus quatro filhos fizessem a mesma viagem. Um filho passou por aquela paragem no verão e retornou dizendo: Vi uma casa, vi uma árvore oferecendo sombra; outro filho passou no outono e voltou dizendo que viu uma árvore oferecendo generosamente seus frutos aos transeuntes; um outro filho ali passou o inverno e disse que viu uma árvore velha, ressecada que só servia para o corte; o outro passou ali na primavera e disse: Que bela árvore que se embeleza com tantas flores.

Quatro pessoas viram a mesma figura em momentos diferentes e cada um retratou apenas aquilo que seus olhos restritos puderam ver. Assim é o ser humano; precisamos olhar além da aparência, precisamos olhar além do tempo. Cada criatura de Deus, cada ser humano que cruza o nosso caminho tem um passado, um presente e um futuro e precisamos adequar nossa visão a tudo isto que esta pessoa vive, viveu e viverá para que possamos entende-la melhor, tal qual nós sabemos que temos um passado, temos um passado e almejamos um futuro.

Quando nos igualamos ao nosso semelhante nosso olhar modifica, nosso olhar se compadece e nossa estrutura mental nos faz ter uma atitude de maior respeito a tudo o que cada pessoa viveu, que cada pessoa tem para oferecer e que cada pessoa padece.

Que tenhamos enquanto religiosos a condição e a coragem de nos modificarmos para que possamos ser uteis no mundo em que vivemos e no tempo em que estamos.

Graças a Deus.