Mensagem do caboclo Sete Flechas em sessão de Caboclos do dia 16 de setembro de 2023.


Graças a Deus.

Que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos nesta tarde em que se reúnem em nome de Jesus.

Estamos dentro de um templo cristão, onde a palavra de Jesus se faz presente e anunciada, onde todos os seus postulados deveriam ser praticados, e com tudo isso, temos também a manipulação das energias da natureza e do louvor às divindades do panteão africano. Todos em uma mistura que busca o equilíbrio da pujança da natureza com a intelectualidade europeia e com a simplicidade dos homens da terra. Uma mistura que em uma ebulição pode levar à confusão, ao desentendimento, mas é preciso que entendamos que a espiritualidade não é fracionada como esse é meu, esse é seu; onde os egos falam demais.

O maior exemplo de mistura saudável de autoridade com humildade é o próprio mestre Jesus, que diante da sua postura, a sua simples presença se impunha por aquilo que exalava de dentro dele. E é esta postura que precisamos buscar dentro de nossa religiosidade, dentro de nossa mediunidade, dentro de nós, porque não somos somente médiuns; não somos somente pais, ou mães, ou irmãos, ou seja, lá qual o papel que desempenhamos. O ser humano é um caleidoscópio, uma mistura de cores e de momentos e a cada um desses momentos, um desses papeis se apresenta para ser desenvolvido, mas por trás de todos eles existe a essência do ser humano, que ora está adormecida, ora não está sendo conhecida, oora está poluída de tanta confusão de valores e de momentos que somente com o uso sadio da autoridade e da simplicidade e da humildade, conseguimos vivenciar todos com harmonia, porque o ser humilde não é só aquele que abaixa a sua cerviz a tudo; não é só aquele que se veste com simplicidade ou que fala manso demasiado; que não circula por ambientes de luxo ou que abre mão de tudo que tem e é avesso a tudo onde flui e está presente o poder do dinheiro.

A humildade é a capacidade de sabermos quem somos, de ocuparmos o nosso papel independente do que ele seja e usá-lo com sabedoria, porque os comandantes precisam ser humildes, precisam conhecer o trabalho daqueles que ele comanda e o fazer tão bem quanto eles, para que possa criticá-los e entende-los e, ainda assim, não necessariamente se imbuir das tarefas que são deles.

Jesus foi humilde a tal ponto que não se rebaixou nunca. Sempre soube se impor em sua inteligência, em sua postura, em seus gestos com humildade; e é este exercício que precisamos fazer dentro de nossa mediunidade, dentro de nossa casa e dentro de nossos outros afazeres; porque muitas vezes exercitamos a humildade apenas dentro do terreiro abaixando a cabeça quando uma entidade vos saúda, dizendo “amém” e “sim senhor” e “graças a Deus” e “salve Oxalá” e usamos vestes simples e andamos descalços e baixamos os olhos, mas ao despirmos o hábito branco basta saírmos do vestiário para que nossa personalidade se apresente novamente pujante em vaidade e hipocrisia e nos impomos ao outro a nossa vontade não aguardamos o outro quando fala,e queremos sempre o que é nosso e o meu primeiro e quando transpomos o muro do terreiro mais uma vez assola em nós a nossa animalidade e vaidade. Quando os valores humanos estiverem presentes em todos os papeis que exercitamos, estaremos vivendo a humanidade. Quando a humildade que pregamos, se fizer presente dentro de nossa casa, na rua com um desconhecido, no comércio quando lidamos com alguém que nos serve estaremos exercitando realmente o papel de seres humanos, mas quando exercitamos somente enquanto se espera que sejamos humildes; nada estamos ganhando. Estamos vivendo um papel, um teatro muitas das vezes; mas os valores humanos que dignificam a alma precisam estar presentes em todos os momentos em que estamos em estados de vigília, em que estamos despertos, em que estamos lidando com outros seres humanos e é este o convite que a Umbanda e que Jesus nos fazem. Não é só o pé no chão fisicamente; o pé no chão é a realidade nos abraçando e nos fazendo cumprir a vida que precisamos viver.

Enquanto eu espero ser servido, o mundo está girando e progredindo e eu estou ocioso, alimentando a minha vaidade. Enquanto eu estou de olhos fechados e não querendo ouvir aquilo que eu preciso para me melhorar, o mundo está progredindo, ouros seres estão abrindo os ouvidos e o tempo vos leva para outros patamares enquanto eu aguardo ser servido, ser reconhecido pela minha autoridade, pelo papel, pelas divisas que trago e que são temporárias.

Então que saibamos viver os valores humanos de fraternidade e de harmonia, de verdade, de dignidade, de humildade, em todos os palcos em que cumprimos o nosso papel para que aí sim possa valer a pena o tempo que eu vivo dentro do terreiro louvando meu Orixá.

Graças a Deus.