Estudo sobre dona Magdalena.

Estudo sobre dona Magdalena.[1]

 

Dando continuidade aos estudos do ano de 2016 vamos falar sobre dona Magdalena, entidade que faz parte da cúpula espiritual do CEJV.

Dona Magdalena vem realizando junto ao médium Nilton de Almeida Junior, um trabalho de dedicação e carinho auxiliando cada um de nós  na reforma intima que é um processo essencial  para a nossa evolução espiritual.

Dona Magdalena nasceu no período da Guerra de Sucessão Espanhola (1701 – 1713), época de disputas por tronos e domínios coloniais na Europa, época também da inquisição dirigida pela Igreja Católica, que teve mais força nos países de Portugal, França, Itália e Espanha. A Inquisição espanhola é, entre as demais inquisições, a mais conhecida. “A perseguição levou a uma interminável caça de hereges” (pessoas contrarias à doutrina da igreja).

Naquela época o “ouvir dizer” e “suposições” eram consideradas provas. Quando um indivíduo era denunciado, um funcionário da inquisição chegava seqüestrava tudo que o suspeito possuía e a família ficava na rua sem abrigo, as crianças à mercê da caridade dos vizinhos. Os principais alvos da Inquisição foram judeus, muçulmanos, ciganos e todas as pessoas que não fossem católicas eram alvos da inquisição, torturadas e queimadas vivas.

Dona Madalena nasceu no dia 31 de março de 1704, na fronteira entre Portugal e Espanha. Seus pais eram ciganos. Aos 5 anos de idade, já apresentava um comportamento diferente das outras meninas que brincavam de bonecas.

Herdou a meiguice de sua mãe mostrada no gesto e na fala, mas não se interessava pelas atividades femininas como lavar, cozinhar e atividades de donas de casa em geral. Preferia a companhia do pai e as atividades masculinas como cuidar dos animais, consertar coisas e afiar ferramentas.

Aos sete anos de idade, dona Magdalena começou a apresentar sua sensibilidade mediúnica: “o dom da vidência”, vendo que sua mãe carregava seu irmão no ventre. Sua avó iniciou o seu treinamento na cartomancia, Magdalena tinha uma facilidade inata de interpretar as cartas e sua memória surpreendia. O interesse pelo oculto afastou-a das atividades que tanto a prendiam ao pai.

Aos dez anos aprendeu com a avó o manuseio das ervas, magias, segredos antigos, preces, encantamentos e rituais em um curto espaço de tempo e com quatorze anos começou a auxiliar sua mãe na atividade de parteira; aprendendo rapidamente a amparar uma criança.

Um ano depois Madalena previu um terremoto que abalou Lisboa e arredores, o assunto foi levado ao conselho do acampamento que não lhe deu ouvidos por ser ainda muito jovem e porque somente os homens tinham o poder de decisão.

Seu jeito intempestivo e sua sensibilidade mediúnica causaram ciúmes entre as mulheres do acampamento. Seu pai temendo a Inquisição achou melhor casa-la.

A tradição cigana é muito rígida no que diz respeito ao casamento, representa a continuidade de raça. Os acertos normalmente são feitos pelos pais dos noivos em função dos seus laços familiares e condições econômicas. As moças ciganas são prometidas, desde muito novas, aos seus futuros noivos.

Seu pai Felipe fez acordo com o primo Henrique, que vivia em Lisboa, e tinha abandonado a vida andarilha para casar com uma cristã e se converteu para evitar problemas com a inquisição. Henrique teve um único filho que se chamava João.

Felipe omitiu os poderes que Madalena vinha desenvolvendo para não haver restrições ao casamento e Henrique escondeu a saúde frágil do filho. Ela se casou aos 15 anos de idade.

O estado de saúde de João foi se agravando. Foram solicitados os serviços do barbeiro Sr Manoel Azevedo. Naquela época a profissão de barbeiro ia além de cortar cabelos. Os barbeiros e os cirurgiões eram considerados uma só profissão.

Dessa união ela teve um filho e seu esposo veio a falecer dias depois do nascimento de Joaquim.

Meses passaram e Magdalena sentia-se sufocada diante da imposição de seus sogros, que ficavam controlando sua conduta e diziam que tudo era pecado. Ambos não aceitavam seu caráter independente e nem sua amizade com o barbeiro que se iniciou quando ela descobriu um segredo dele.

Ela não conseguia evitar o assédio de seus sogros que não a deixavam em paz enquanto não a vissem na igreja. Durante a missa seu filho chorou, o que a forçou a  sair para ficar nas proximidades da igreja. Foi aí que ouviu dois homens falarem sobre o barbeiro Manuel Azevedo, sentiu naquela conversa uma sensação de perigo e resolveu avisá-lo. Chegando na barbearia ele estava tendo uma  crise de epilepsia  (naquela época um epilético era confundido com um possuído pelo demônio). Magdalena prestou os primeiros socorros, mas logo em seguida chegou Neuza escrava alforriada que fazia o serviço doméstico para Azevedo. Neuza pediu a Magdalena que não contasse a ninguém o que viu.

Azevedo horas depois foi à casa de Magdalena agradecer e percebendo uma bacia de água sobre a mesa descobre seus rituais ciganos. Eles começaram  a se proteger, ele sabia de seus dons de vidência e ela da doença dele. Iniciam um relacionamento de amizade e cumplicidade.

Madgdalena passou a auxiliar Neuza na tarefa de cuidar do segredo do barbeiro e ele a ensinava ler e escrever. Essa atividade estreitou ainda mais o relacionamento dos dois.

Trabalhou como costureira para pagar as despesas e alimentar a si e seu filho. Tempos depois de Magdalena deixar o luto, novamente um protegendo o outro, Sr. Azevedo pede sua mão em casamento. Ela aceitou. Continuou prestando serviços de costura aumentou suas habilidades criando uma pequena e fiel clientela, não queria ficar dependente financeiramente do esposo e  passou a  ajudá-lo no balcão da barbearia.

Com seus dons mediúnicos tem visões e pressentimentos. Pressentiu outro tremor de terra. Suas visões se concretizam e ela perdeu seu esposo e seu filho no terremoto. A partir da segunda viuvez tirou seu sustento com as costuras, com a prática da leitura das cartas, com seus conhecimentos de ervas e parteira muito solicitado na época.

A convivência que teve com Azevedo foi o suficiente para assimilar os métodos de estudo das receitas que ele ministrava. Com a morte dele muitos enfermos iam pedir orientação a ela e com  seu coração bondoso estava sempre disposta a ajudar .

Conheceu Sr Tobias, homem de saúde frágil que tinha crises de depressão. O empregado do Sr Tobias ficou sabendo dos dotes de Magdalena e a levou  para cuidar dele que de início não aceitou e não queria pagar pelo serviço. Ela assumiu cuidar dele mesmo sendo mal tratada e com o tempo o Sr Tobias afeiçoou-se dela.

Era viúvo e sentia falta da esposa. A presença de dona Magdalena trouxe a ele uma qualidade melhor de vida. Mesmo sabendo que sua doença não tinha cura, quis agradece-la por ter despertado nele a esperança.  Dona Magdalena apenas o ajudou a morrer com dignidade e menos tristeza. Sabia que pouco era seu tempo de vida então desencarnou deixando Magdalena com uma situação financeira melhor, o que acabou impulsionando sua vinda para o Rio de Janeiro.

Chegando no Rio de janeiro, mudava de endereço constantemente para proteger sua identidade, por isso o nome de Molambo da Estrada. Viveu um período em Quilombo nas vizinhanças de Salvador onde ficou um bom tempo prestando serviços a um convento. Nos quilombos viviam todas as pessoas excluídas da sociedade (brancos pobres, ciganos, …) e não somente os escravos fugidos.

Aos 80 anos de idade Dona Magdalena veio a falecer próximo a Salvador, sendo recebida na espiritualidade pela sua avó. Durante sua vida aprendeu a dedicar-se às pessoas e passou a fazer o mesmo na espiritualidade.

Hoje no CEJV, com sua visão mais ampla na espiritualidade e conhecimentos adquiridos, assumiu o papel de nos orientar, alertar com seus conselhos na nossa jornada física e mediúnica enquanto encarnados.

Dona Madalena tem uma grande participação nos trabalhos de harmonização e auxilia nos estudos comandados pelo Senhor Sete da Lira.

Está sempre nos estimulando a coragem, caridade e aprimoramento mediúnico e com isso abrimos canais que aproxima de nossos mentores, realizando de forma verdadeira o que foi confiado a cada um de nós, pois o trabalho mediúnico consciente e responsável exercita a humildade e disciplina.

Ela nos mostra que a mediunidade é auxilio ao próximo fazendo fluir de nosso intimo a esperança de um trabalho a cumprir, que às vezes em nossa ignorância e vaidade impede de enxergamos e acabamos deixando adormecido esquecendo que todos nos podemos ser úteis.

Graças a Deus.

[1] Entrevista feita pela médium Vânia Rodrigues em sessões de Descarga ao longo do ano de 2015.