
_Boa tarde a todos! Como estão?
_Estamos bem e a senhora?
_Em silêncio. Em silêncio, observando, não obstante em trabalho.
Mesmo o ócio é produtivo, a mente do homem está sempre em atividade, tem vida própria, principalmente a do homem encarnado. Muitas vezes entra em um modo, como dizem hoje em dia, de descanso, em que uma parte, como que apagasse, mas mesmo assim segue elaborando, processando informações, porque uma vez que a centelha da vida se acende, ela segue. Vermes são centelhas de vida, plantas são centelhas de vida, toda forma de vida é uma centelha. No caminhar do tempo, a esta centelha, nesta centelha, surge algo chamado consciência, porque embrionária na planta, no verme, em alguns animais, mas muitos outros já começam a despertar e demonstrar a sua individualidade.
O ser humano tem a faísca da consciência bem desperta e o caminho da consciência é ampliar-se. A cada vez que se retorna ao mundo carne, o trabalho do desenvolvimento biológico, da convivência em sociedade, em grupo, vai moldando a criatura. Não importa em que meio esta criatura reencarne, ela tem em si sementes que brotam quando estimuladas pelo exterior ou muitas vezes algo dentro da criatura faz com que ecloda. A necessidade, a insatisfação, a inadequação e o modo como ela lida com esta necessidade, com essa inadequação é que a fará dialogar com a vida e que fará essas sementes brotarem.
Então não é culpa somente do meio o insucesso da criatura, ela traz dentro de si algo que ela precisa alimentar, se não tem, ela precisa buscar, e toda criatura sabe disso, mas muitas vezes outras sementes, tal qual em um jardim, em que brotam sementes daninhas e abafam as sementes boas, podem surgir, mas a consciência está ali vigilante e precisa fazer com que a criatura busque o crescimento.
Ao longo da trajetória do ser humano, ele tende a absorver tudo, a aprender de tudo, a tudo querer, a tudo querer poder, chega uma hora em que chega um cansaço. Um cansaço de querer provar quem é e o que quer, mas esse cansaço é bom porque ele é uma peneira onde o ser humano inteligente começa à discernir se ele realmente precisa provar algo para alguém. Muitas vezes o ser humano se cansa e começa a abrir mão do que lhe é caro, do que lhe importante e começa a ficar relapso, mas é tão somente um cansaço que ele não aprendeu ainda com este cansaço e ele fica mais indisposto para o trato social, ele fica mais cansado de muitas criaturas, mas o ser humano precisa entender que muitas vezes este cansaço é um sintoma do ego adoecido, porque ele ainda esta insistindo em querer provar algo e o cansaço vem, mas quando ele compreende que o que ele precisa é provar a si mesmo, é entender a si mesmo, é gostar de si mesmo, porque o viver, é conviver, mas também é conviver consigo e quando chega a hora de conviver consigo, é que pesa.
Pesa abrir mão de coisas que sempre acreditou serem corretas, que podem mudar e essa mudança lhe causa medo, lhe causa ansiedade, lhe causa dificuldades de conviver consigo mesmo. “A todos vós que estais cansados”, disse Jesus, “provai de mim que sou manso”, mas o ser humano precisa escutar estas palavras. A luta que Ogum luta, não é qualquer luta. A justiça que Xangô sustenta, não é a justiça individual. A família que Iemanjá protege, não é só a minha. A fartura que Oxossi promete, não é só para mim. A paz que Jesus traz e que Oxalá carrega não é só pra mim, e é isto que o ser humano cansado precisa entender.
Quando o cansaço vem, observe se não estão carregando peso demais, que cada um acumulou por si só. Deixem cair o que pesa e aquilo que sobrar, é realmente seu. Então cuidado com a impaciência porque ela pode ser ego inchado e adoecido, cuidado com a falta de tempo porque pode ser egoísmo, cuidado com a língua ferina que pode ser medo da convivência. O homem precisa aprender a mansidão, seja ele quem for, principalmente os que têm seguidores e não existe ser humano que não seja farol de outro ser humano. Não existe ser humano que não sirva de exemplo para alguém. Tenha você um seguidor, seja exemplo positivo, para que a sua vida seja um caminhar que vale a pena se caminhar.
Axé.