
Graças a Deus; que a paz de nosso senhor Jesus Cristo esteja com todos nesta tarde em que se reúnem em nome de Jesus.
Sim, a Umbanda é uma religião cristã; tem as suas raízes na tradição afro-descendente, cultua Orixás, cultua a natureza, faz o uso do fogo, da terra, da água e do ar; se sintoniza com os ciclos da natureza, mas é uma religião que tem no alto de seus altares a figura do Cristo. Então, como religião cristã precisa pregar os ensinamentos de Jesus.
O umbandista precisa entender que tudo aquilo que ele faz precisa caber, precisa ser capaz de estar coberto pela bandeira do cristianismo que envolve fraternidade, envolve perdão, envolve consciência do seu papel dentro de sua comunidade, envolve a responsabilidade para com o outro, envolve o servir. O médium que coloca sua roupa branca, endossa suas guias e faz os seus rituais e tem mais anos de trabalho, como está a sua missão cristã? Como está o seu envolvimento com aquilo que o Cristo exige? Vem e segue-me, para que possa fazer valer a pena o seu tempo empregado ou está só exercitando poderes? Porque mediunidade todos têm; bons e maus, ricos e pobres, sãos e enfermos. A mediunidade por si, não isenta nem dá asas a ninguém. Ela é veículo, ela é instrumento e é o uso dela que capacita o cristão a ir adiante. É o seu uso, não a sua capacidade de veicular, não é a extensão de seus poderes e até do seu conhecimento, mas é o uso que faz, porque é o uso que trará, pela lei do retorno, tudo aquilo que se está plantando. São as ferramentas, são as bagagens que ele tem e que coloca nesse uso, é que fazem dele mais capacitado para seguir debaixo da bandeira cristã ou tão somente ser uma alegoria.
É isso que é importante que todo cristão saiba, pertencendo a que facção religiosa for. Se ostenta Jesus em suas palavras, não necessariamente em sua indumentaria, nas paredes de sua casa ou de seu templo; é o uso que faz desse conhecimento que o habilita a realmente estar debaixo, com fervor e com merecimento, da proteção de todas as falanges cristãs. É a bagagem que trazemos que muitas vezes se torna supérflua e faz de nós somente cenários de algo que poderia ser muito maior.
Um viajante quando sabe para onde vai, escolhe os apetrechos que levará: se são calçados para subir a montanha, se são agasalhos para proteger do frio aonde chegará, se são protetores para pele por conta dos raios solares; todos sempre devem carregar água, porque a água se faz presente e necessária em todas as viagens. Existem artefatos que se levam sempre, existem artefatos que se levam de acordo com o destino para onde se vai e existem artefatos que são desnecessários independente do destino onde se vá, mas muitas vezes, por desconhecimento, por vícios, levamos assim mesmo.
E o ser humano encarnado é um viajante no mundo em que encarnou. Viajante porque ele nunca estará no mundo para sempre, ele sempre estará passando pelo mundo e muitas vezes volta ao mundo e muitas vezes reencarna e sempre traz as mesmas bagagens, os mesmos elementos alheio à sua real necessidade ou não. Precisamos começar a entender qual é a bagagem que é útil, qual é a bagagem que pesa desnecessariamente, qual é a bagagem que é nossa. E uma vez sendo nossa, será que realmente precisamos carrega-la e aí começaremos a selecionar as coisas que levamos na grande viagem de cada encarnação que temos. Jesus pouco carregava consigo, nós o que carregamos conosco? Que bagagem temos? Seja para esconder ou para utilizar, serão elas todas necessárias?
E assim começaremos a pensar o que realmente precisamos estar carregando conosco e não falo de bagagens. Nossa mensagem fala de sentimentos, de valores, de coisas que vamos cultuando e acarinhando dentro de nós que são a nossa identidade, mas que podem ser melhoradas. Podem ser melhoradas, porque nem sempre é o outro que nos faz mal, nem sempre é o mundo que está errado, muitas vezes somos nós que estamos inadequados, muitas vezes são coisas nossas que entram em sintonia com aquilo que o ambiente ou que o outro tem e que expõe-nos a graus de sentimentos, estágios de consciência que nos fazem mal. O outro pode ter a sintonia que ele tiver, mas nós precisamos escolher a ressonância que temos. Nós precisamos ter a consciência do que está em nós, aguardando a sintonia para reverberar.
Tal qual o lago sereno, belo, mas que em seu fundo existe lodo, existe impurezas e quando a ventania faz com que a água se movimente, muitas vezes as impurezas sobem, logo depois a água se acalma, mas todo lago tem em seu seio, detritos, assim como todo ser humano tem dentro de si, detritos emocionais, muitas vezes vícios ou de linguagens ou de postura ou de crenças. Crenças que limitam, crenças que nos fazem pensar que somos assim, mas na verdade somos assado. Muitas vezes falamos coisas que pensamos que estamos agradando e estamos na verdade sendo insolentes ou magoando, passando por cima de limites. Todo ser humano precisa observar: Que bagagem estou portando ao mundo e quem estou deixando que mecha com as coisas que estão no meu íntimo?. O domínio de si, nos faz perceber o que temos no fundo de nosso lago e só permitir que venham à tona para serem expurgados e limpos e não somente aparecer e turvar a paisagem.
Assim são as bagagens que trazemos ao mundo, assim são as bagagens que muitas vezes deixamos com os outros. Um cristão a todo momento serve. A todo momento serve e servir não é ser subserviente, mas é saber que está no mundo para que possa fazer o mundo, um lugar melhor. Exemplificar, permitir que o tempo nos molde. O tempo traz sabedoria, mas não aguardemos pacificamente que a sabedoria se assente, como o sereno que vem diuturnamente banhar a natureza, precisamos nos expor ao mundo, nos dispor ao tempo para que a sabedoria venha, sendo talhada através da experiência e do eterno remodelar de nossa forma de encarar o mundo e as pessoas. Tudo isso toma tempo, toma investimento emocional. É necessário que aguardemos trabalhando, nos trabalhando, nos permitindo fazer de nós instrumentos de paz. Ninguém deixa o mundo com o tempo que não foi necessário viver, tudo que vem até nós é a lei da sintonia que trouxe, aceitamos as coisas de uma maneira pacífica, mas o tempo inteiro trabalhando.
Não precisamos fazer com que a vida seja uma moenda, que nos destrói. Antes de tudo, que a vida seja um oleiro que pega o barro e amassa o barro e que com ele se mistura e se besunta, mas ainda assim segue trabalhando e transforma toda aquela massa disforme em obras de arte ou em utensílios que possam ser úteis nas mais variadas formas do viver do homem. Passemos pelo mundo como oleiros e como o barro para nos besuntarmos com ele e sermos moldados por ele e sermos úteis e não como trituradores que por onde passamos deixamos um rastro de dor, de despedaçamento.
O cristão, busca ser oleiro e ser barro para que sendo moldado e moldando contribua para a sua existência e para a de todos aqueles que chegam até ele. Nada que acontece no mundo, acontece sem um propósito. Então antes de nos rebelarmos contra as dores que o mundo traz, agradeçamos, trabalhemos, sigamos e aprendamos, porque é impossível passar por uma encarnação somente com alegrias. As dificuldades fazem parte da vida humana porque o ser humano traz bagagens difíceis, passemos a deixar pelo caminho o que não mais nos serve para sejamos mais leves, viajores no mundo com mais tranquilidade.
Graças a Deus.