Mensagem do Boiadeiro da Campina ao final da sessão de Boiadeiros no dia 12 de julho de 2025.


Graças a Deus.

Seja a gratidão o sentimento presente dentro de cada um, em todos os dias, em todos os momentos. É importante a gratidão sincera, dizer um graças a Deus que vem de dentro do peito, de dentro do coração e se espalha e toca a tudo e transforma todos os presentes. A gratidão aproxima os seres humanos entre si e aproxima o ser humano da Divindade.

Tudo que se espera é a gratidão. A gratidão expressada pelo semblante tranquilo e calmo de felicidade por uma finalização, por uma recepção de algo bom, por uma descoberta, por um aprendizado. Que a gratidão permeie todos os dias da vida do ser humano, mas que ele também não banalize a gratidão, tão somente diga um “Minha mãe lhe abençoe” ou “Meu pai lhe abençoe”, mecanicamente, que venha de dentro, junto com a alma para que possa envolver a pessoa que está ali em contato com cada um de vocês.

Que essa reunião permeada da gratidão, da força aglutinadora de Oxossi, posto que Oxossi é aquele que provê, é o caçador, é aquele que vai no mato e traz alimento para a tribo, é o homem ou a mulher trabalhadora que enfrenta as dificuldades da vida, da violência do trânsito , da falta do dinheiro, a coragem para ir e melhorar, aperfeiçoar-se, traz para dentro de casa mais conhecimento e sustenta aqueles que dependem deles. Então que Oxossi abençoe todos os trabalhadores e também dê a cada um o dom de ir se curando, porque o caçador é solitário, o caçador sabe que sem ele algo ficará menor, algo ficará manco, então o caçador também sabedor disso, se cuida. Ele não é afoito, ele é paciente, ele é inteligente, ele é meticuloso, ele é disciplinado. Que possamos trazer todas estas características do caçador, que não é intempestivo, ele é paciente, ele observa e sabe o momento de falar, o momento de agir, o momento de calar e assim ele vai fazendo com que a sua vida tenha significado. Não se preocupa em estar em exposição, mas sabe que é mimetizando-se, sendo mais um dentro daquele cenário é que ele funcionará em harmonia e conseguirá auxiliar a todos. Porque se queremos auxiliar alguém, precisamos antes de tudo nos colocarmos no mesmo nível dele, de entendimento, de energia, de vibração para que o auxiliado possa perceber no auxiliador alguém igual, alguém em que ele pode confiar, em que ele pode segurar a sua mão e seguir adiante.

Então que possamos ter este dom do mimetismo não só cultural, mas também emocional, sabendo entrar no mundo do necessitado, sem com isso se misturar com as suas emoções e com seus problemas, mas ser como um mergulhador, que busca pérolas, que busca pedras, que busca algo a ser melhorado, lapidado e sabe que está escondido no sofrimento daquele que ele vai auxiliar. Esse é o trabalhador que sabe seu mister, que sabe aquilo que precisa fazer. Ele mimetiza-se e consegue transitar nos vários ambientes nos mais dificultosos, ambientes turbulentos ou purulentos, a sua própria vibração o protege e ele consegue realizar o seu trabalho. Ele não tem pena, ele tem piedade, ele não se impõe, ele sabe o momento da sua ação, o amadurecimento do fruto e o despertar das sementes que habitam nas criaturas, as sementes boas. A pena é um sentimento que se alimenta em si mesma, ela é o início de algo bom, mas não pode demorar-se mais tempo do que o necessário, precisa transformar-se na piedade. A piedade é aquele sentimento de quem já sofreu e reconhece no outro um pouco de si e lhe dá o lenitivo de sua dor, lhe concede o momento de desaguar-se e o resgata.

Então que Nossa Senhora da Piedade possa vibrar ainda mais em vossos corações, que filhos possam reconhecer as dores que têm, mas não se percam nelas, não se percam demasiadamente na piedade ou na pena de si mesmos. Reconheçam que existem pessoas muito mais necessitadas. Enquanto temos conhecimento, enquanto temos a sintonia com mentores, enquanto temos diretrizes, casas que nos orientam, família que nos alimenta emocionalmente, não estamos pobres, não estamos renegados ao relento, à indignidade. Temos a responsabilidade, através do sentimento da piedade, de resgatar o que sofre porque reconhecemos nele as nossas dores. Sabemos o que estão sentindo, sabemos que não merecem mais, nenhum ser humano, nenhuma criatura de Deus, foi feita, foi talhada para o sofrimento. Ele existe, ele lapida, ele burila, mas ele não é eterno. E quem tem a piedade sabe disso e o resgata, o lava, cura suas feridas e faz com que ele comece a andar tropegamente, com auxílio, mas em um momento ele permite que ande sozinho.

Então que Nossa Senhora da Piedade derrame, junto com Oxossi, nessa finalização de nossos trabalhos essa harmonia em cada um presente. Um trabalho intenso se realizou hoje, resgates, de limpezas, de chagas emocionais profundas e também desligamentos de pessoas ainda apegadas ao passado, apegadas à dor. Que possamos sair deste trabalho de hoje com a leveza dos que trabalharam e que cumpriram seu papel com harmonia.

Graças a Deus.