Mensagem Caboclo Sete Flechas em sessão de Pretos Velhos do dia 14 de junho de 2025.


Graças a Deus filhos e que a paz de nosso senhor Jesus Cristo esteja com todos nesta tarde em que se reúnem em nome de Jesus.

Sim, somos um terreiro de Umbanda, cultuamos a natureza, reverenciamos divindades, mas também acima de todas as nossas imagens no nosso altar, está a figura de Jesus. Sincretizado com Oxalá, que é o maior dos orixás, mas ainda assim a figura de Jesus se faz presente, indicando que sim, somos cristãos, seguimos o evangelho cristão, que prega o amor, que prega a fraternidade, que prega a caridade, que prega a união, que prega a responsabilidade, que prega a simplicidade. Trazemos todos esses ícones para dentro de nosso templo, aguardamos que filhos absorvam e traduzam isso em vossas vidas diárias, para que a vida mediúnica, a vida religiosa, a vida de reclusão do templo, a vida mundana, a vida que filhos vivem no mundo sejam a mesma canção, a mesma sintonia, para que não pratiquem a loucura de serem completamente voltados para o bem enquanto estão aqui dentro, investidos, imbuídos de vossa responsabilidade e no mundo lá fora esquecem de tudo isso, esperando que um perdão aconteça para os pecados do homem.

Porque essa é a grande dicotomia, a base de muita insatisfação para o ser humano. O ser humano quer viver uma vida desregrada, uma vida voltada só pra ele, livre das amarras da sociedade ou da cultura ou da educação, mas aguarda um pós morte beneficiado por um perdão que ele não faz por merecer. Só porque praticou a caridade, só porque estava religiosamente com suas obrigações em dia. Esquece que precisa haver uma ligação, uma continuidade de todas as suas atitudes. Se é responsável no trabalho, se é responsável pelas ações civis, culturais e familiares e também religiosas; é tudo uma coisa só, simplesmente compartimentada para que a mente funcione bem, mas dentro destes vários compartimentos da vida, existe uma única pessoa, uma única essência, uma única identidade que tem que ser a mesma em todos os momentos. E esse perdão divino virá com a assunção dos erros e a busca de corrigi-los. Porque também não basta somente assumir os erros que se pratica e seguir praticando-os. Precisamos reconhecê-los e buscar educar a personalidade, o caráter e a vida em si, para que possa pouco a pouco ser saneada. Sabemos que isso se dá ao longo do tempo e, se necessário for, ao longo das encarnações, mas o ser humano precisa experimentar ser um só diante de todas suas várias faces, diante do mundo, para que haja coerência, para que haja retidão e para que haja saúde mental, para que possa viver o seu papel e sua verdadeira personalidade em todos os momentos de sua vida.

Porque Deus é justo, orixá é justo, mas a justiça vem de acordo com a retidão e a coerência dos nossos comportamentos e exemplificações no mundo. Toda as nossas atitudes são uma oração e a oração não é só aquela proferida por palavras decoradas, muitas vezes ditas com emoção, mas decoradas. Então não vêm do coração, vêm da repetição e toda oração feita com emoção atrai energias, mas quando entendemos que a nossa vida, é ela inteira uma oração, começamos a perceber a força que a oração tem. Porque as nossas ações, pensamentos e palavras e até a nossa não ação, são evocações para que a divindade se faça presente . Então que possamos ver a responsabilidade que temos ao cultuarmos práticas que não falam bem para nós, nem o seu resultado não é bom para nós. Isso se chama a responsabilidade e o conhecimento que precisamos ter das coisa de Deus.

E é por isso que Jesus do alto de seu madeiro, ao se entregar o final de sua vida, rogou ao Pai que ele perdoasse os homens porque não sabiam o que faziam: “Pai perdoa porque não sabem o que fazem. Não só o que fizeram a ele, não só o que fizeram ao filho de Deus, mas não sabem o que fazem ao longo da vida. A ignorância dos poderes que se tem, a ignorância da responsabilidade que se tem , o não fazer, o desconhecer o que pode vir depois de tal atitude, é a isso que Jesus se referia. Muitas vezes assumimos coisas que não podemos ou que não queremos e Deus precisa nos perdoar por não saber o que estávamos fazendo. Ao longo das encarnações assumimos ou não assumimos, fazemos ou não fazemos e magoamos ou somos magoados excessivamente e precisamos entender que nosso desconhecimento seja pela irresponsabilidade ou pela falta de conhecimento mesmo, precisa ser perdoado por Deus, que nos perdoa, mas precisamos assumir a responsabilidade para que possamos, nós mesmos, sanear a nossa existência.

Certa vez Xangô queria ter mais poder. Já era um rei poderoso, conhecido e temido; reconhecido pela sua justiça, mas Xangô queria ter mais poder e encomendou a Exu um preparado para que pudesse estar ainda mais presente e temido diante de toda sua corte e de seus súditos. E Exu lhe fez um preparado, mas Xangô não sabia o que viria daquele preparado. Sabia que deveria alimentar-se dele, alimentou-se, mas ao começar a falar após ter se alimentado, de sua boca saíam labaredas. E Xangô estava no alto de um monte e começou a falar alto para o seu público e as labaredas começaram a incendiar a cidade. Machucou pessoas, queimou os telhados, queimou inclusive o próprio palácio que precisou ser reconstruído depois que Xangô conseguiu dominar o poder que desconhecia.

Assim somos nós. Muitas vezes buscamos poder, buscamos aumentar a nossa presença no mundo, a nossa autoridade e nos envolvemos com coisas ou manipulamos conhecimentos e coisas que desconhecemos e os efeitos podem ser catastróficos. Entendam que até o palácio de Xangô foi queimado por um poder que ele desconhecia. Muitas vezes nossas atitudes e palavras nos magoam a nós mesmos, os efeitos recaem sobre nós e precisamos nos reconstruir, precisamos nos perdoar, precisamos fazer por onde a vida siga de maneira equilibrada e saudável.

Então que Deus siga nos perdoando sempre que não soubermos o que estamos fazendo, mas cabe a nós, cabe a nós buscarmos nos conhecer sim, entender nossos poderes sim, nossos limites sim e utilizar todo nosso conhecimento, tudo que nos pertence para o bem, inclusive nossos defeitos. Precisamos utilizar tudo que possuímos para o bem, pois só assim estaremos nos reconstruindo e construindo à nossa volta um mundo mais pacífico e melhor para todos inclusive nós.

É nossa responsabilidade fazer com que o mundo floresça, é nossa responsabilidade fazer com que a justiça aconteça e ela nem sempre é aquilo que nos satisfaz; ela é aquilo que é bom para o coletivo. Saiamos do egoísmo doentio e busquemos a paz através da convivência pacífica do estudo saudável das energias e do uso ainda mais saudável dos dons que possuímos.

Graças a Deus.