
Muito boa tarde a todos!
Salve quem tem fé; Salve quem não tem fé; Salve quem é do dia e salve quem é da noite! Salve todos, salve todos!
Que haja sempre harmonia, é o que precisamos. Harmonia como em uma orquestra, onde cada instrumento sabe exatamente a hora em que deve soar. Cada instrumento, dizemos, cada um que faz uso do instrumento, cada músico entende o tempo do outro e o tempo da música e no exato momento soa o seu instrumento. E todos são importantes. Do prato ao bumbo, da flauta ao violino, do piano à voz do cantor ou da cantora porque é desta sintonia que nasce a harmonia. E é nessa mesma harmonia que bailam os astros no universo, sem colidir. Uns habitados outros ainda em formação; estrelas que explodem produzindo super novas, estrelas que morrem formando buracos negros que sugam tudo, a velha luz das estrelas que ilumina o vosso mundo e a vossa noite, cada coisa tem o seu momento.
Que possamos nos espelhar nesta harmonia, nesta sintonia e sabermos que cada instrumento da orquestra tem a sua função e que existem momentos em que simplesmente não tocam, não soam, porque não se fazem necessários e a sua presença pode trazer desequilíbrio. Assim somos nós na vida.
Uma criança nasce dentro do útero de sua mãe, indefesa, pequenina, tão somente uma célula que se multiplica e cada uma dá origem a um órgão, dali sai a pele, dali sai um pulmão, dali sai um pé, mas o primeiro a se formar é o coração pulsando e indicando uma vida diferenciada de sua mãe. E este pequenino ser cresce num ambiente aquecido, nutrido e começa a fazer suas peripécias. Resiste, existe e a mãe o alimenta, doando de si, seus ossos se enfraquecem, seus dentes também porque uma vida nova precisa de nutrientes, mas essa criança não nasceu para estar ali dentro, em um momento, aquele útero quente, aconchegante, torna-se demasiado apertado tanto para criança como para a mãe, que já carrega um peso além do seu corpo por si só, é preciso expulsa-lo e ele vem ao mundo, ele respira e ele chora. Mas da primeira batida de seu coração até o momento em que está realmente independente, nutrido não só de alimentos, mas também de educação e de valores, a mãe, o pai, biológicos ou não, são presentes em sua vida e interferem sim e lhe dão direcionamento sim e são responsáveis por ele sim, mas há um momento diferente e distante no tempo, em que há um corte do cordão umbilical em que outro cordão também precisa ser rompido, o que traz a independência, e a mãe diz: “lhe eduquei para o mundo!” Porque esta é a missão dos pais, já não interferem tanto em seu livre arbítrio. A sua música enquanto mãe que interfere, enquanto pai que interfere já tocou, a criança precisa ser responsável pelos seus atos, porque não é mais uma criança, é um adulto. Inexperiente, mas é um adulto. Seu corpo responde como adulto, seus órgãos são de adulto, produzem hormônios e está pronto para gerar outras vidas e é outra música que toca. É a música da cooperação, é até a música da imitação dos passos que deu, mas ele precisa entender que os passos que deu não precisam ser necessariamente os mesmos passos que seus pais, porque os mesmos passos indicam ser os mesmos erros. Não existe DNA para erro e nem para acerto. Somos independentes, mas precisamos, enquanto seres humanos que habitam o mesmo mundo e a mesma família, estarmos em harmonia e respeitarmo-nos e fazer com que tudo isso funcione.
Pais e mães são antes de tudo seres humanos, sujeitos a erros, portanto não podem carregar sobre si tanto fardo. Sejam também humanos, entendam que muitas vezes, o que foi certo lá traz, pode não ser o certo de hoje. Porque eternos e desafiadores do tempo somente às esfinges, paradas, imóveis que só servem para adoração. Atualizem-se. A relação entre pais e filhos precisa ser antes de tudo uma relação fraternal, de amizade, porque amigos se respeitam e se amam independente do que ocorra. Todo amor precisa ser permeado pelo amor fraterno, que é o amor que realmente embala as criaturas sem sufoca-las. “Não há maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”, palavras de João. Que seja este o amor do qual falamos hoje, não esvaziemos a palavra amor, porque no amor fraterno existem hierarquias, existe sabedoria, existe o respeito, mas que a fraternidade seja antes de tudo aquela que fala mais alto, em qualquer posição que ocupem. E assim a vida fluirá, haverá menos mágoas, menos rancores, mais esquecimento e mais busca de acertos. É a transmutação que hoje convidamos a fazer. Que toda esta tarde traga o amor de Nanã, mas mais amor próprio, altruísmo e dignidade a todos vocês.
Axé.