Mensagem do Caboclo Sete Flechas em sessão de Boiadeiros do dia 01 de Fevereiro de 2020. Homenagem à Iemanjá.


Graças a Deus.

Que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos.

Que a sua harmonia, tranquilidade e paz, derramadas em nosso ambiente através de tudo que se encontra em sintonia com o bem estar espiritual, fortaleçam os filhos para que, de volta ao mundo lá fora, identifiquem-se com o que é belo, justo e bom.

Aqui dentro é como se momentaneamente o tempo parasse para que os filhos possam absorver energias salutares de encorajamento e de fé, para que ao voltarem à vida fora de nossos muros, o tempo volte a correr, suas areias voltem a escorrer na ampulheta da vida e os filhos, a cada grão, a cada momento que passa, utilizem o combustível aqui assimilado, bem utilizando e sabendo distribuir benefícios durante sua estadia no mundo.

Todo conhecimento, bem estar e amor que se tem de nada valem se os filhos somente dão para aqueles com quem tem laços de amor e de sintonia. É muito fácil amar quem já conhecemos ou quem já nos ama. O grande exercício proposto por Jesus e pela espiritualidade que desafia, de maneira gentil e saudável, o nosso crescimento é amar aqueles que nos incomodam; é amar aqueles que nos espetam a alma justamente na ferida que sabem que temos. Seja na vaidade, no orgulho, na prepotência, no desconhecimento de muitas coisas. É aí justamente nessa área de sombra de nossa personalidade que ficamos expostos e é através destas falhas que precisamos exercitar ainda mais tudo aquilo que vimos aqui absorver para que fortalecidos tenhamos condições de compreender as pessoas que trilham o nosso caminho.

Muitas vezes optamos pela clausura. Pela clausura pessoal de não nos relacionarmos com nada que nos incomode. É saudável até o momento em que estamos sendo sinceros por não querermos o mal estar, não querermos a contenda, mas a própria saúde espiritual nos adverte que tudo em excesso gera o desequilíbrio. E até a clausura optativa em excesso nos faz flores de estufa. Flores belas enquanto protegidas na redoma do Eu, mas quando expostas ao mundo perecem e de nada mais servem. Enquanto flores de estufa, somos belos para sermos admirados, mas pouco temos a oferecer além da beleza efêmera, passageira e transitória. Ao passo que as plantas que se mostram ao sol e as intempéries, fortalecidas, podem gerar em suas raízes medicamentos, podem gerar em suas folhas protetores. Assim percebemos que é na luta diária do doar-se e do receber, na busca da melhora, na busca da melhora do outro que fortalecemos o nosso espirito e com isso engrandecemo-nos aos olhos de Deus.

Belas são as flores de estufa, mas belas são tão somente enquanto vivem protegidas por sua redoma. Graças a Deus pelo mato rasteiro que pisamos e que cuspimos, mas que a todo momento ali está para servir a natureza e servir ao homem na medida do quer for necessário. Grande é o poder daquele que se refaz a cada dia; grande é o poder daquele que tem o condão de se observar, de gostar do que olha no espelho e de dividir com seu semelhante aquilo que carrega consigo, porque só assim distribuindo benefícios crescemos aos olhos de Deus.

             Nada é puro para os que estão contaminados. Costumamos observar o mundo com os olhos naquilo que temos por dentro e então a nossa insegurança nos faz ver sempre o perigo no outro. O nosso pouco conhecimento faz sempre ver no outro a ganância, o egoísmo e a prepotência. Estamos sempre colocando nossos pés atrás em todos os relacionamentos, quando por dentro não estamos seguros do que somos, do que temos e do que queremos ser e quando estamos ainda com a alma eivada de cicatrizes que demoram a fechar completamente. Quando nos permitimos a cicatrização e a lavagem interna das mágoas, dos rancores e dos medos começamos a limpar a nossa visão do mundo e começamos a ver beleza a onde ela realmente está. Nenhum ser humano nascido de mulher é bom completamente ou ruim o tempo todo.  O ser humano tem a dualidade, o ser humano tem em si as sementes daninhas e as ervas curadoras. Precisamos incentivar o brotar daquilo que cura e cuidar da semeadura para tolher o crescimento excessivo das ervas daninhas, que ao seu tempo são produtivas na medida em que devem ter o tempero dosado da sua presença para podermos seguir crescendo com equilíbrio e dignidade.

Que a força presente de Iemanjá nos banhe. Que toda a grandeza espiritual simbolizada pela grande mãe da humanidade dê a cada um de vocês o poder de amar a todos para que possam ter de volta essa troca de benefícios que é o do amar indistintamente.

Graças a Deus.