Entrevista com o Caboclo Sete Montanhas
Lúcia: Muito obrigada pelos esclarecimentos. Então agora a gente pode começar o trabalho do estudo que vai ser apresentado, que no caso fui encarregada de conversar com o senhor e com o senhor Sete Flechas, para saber das suas reencarnações, dos seus trabalhos quando encarnados, em que lugar, em que época, sua vivência, seu trabalho.
Um pergunta que gostaria de fazer; quando o senhor foi chamado para o trabalho espiritual, como o senhor deu o seu “Sim”, assim como a gente vem aprendendo aqui, esse momento, se algum momento o senhor teve medo, como foi isso para o senhor?
Senhor Sete Montanhas: Filha, todo o trabalho de uma entidade do porte de um Caboclo, de um Preto Velho, vai acontecendo na medida de seu amadurecimento, muitas vezes não existe uma convocação formal dizendo: Aceita tal missão? O espírito vai se envolvendo naquele trabalho, vai gradativamente assumindo responsabilidades e há um momento que lhe é dado o alerta: insistindo neste caminho desenvolverás tais e tais aptidões e tais responsabilidades. Tem certeza que seguirás neste caminho?
A própria consciência vai despertando também isso. Não são momentos mágicos, em que filhos estalam um dedo e de repente estão um caboclo. Tudo isso é construído através das várias encarnações. Esse vosso mundo já vem abarcando e hospedando espíritos de vários outros orbes que migram para cá, na busca de aprimorarem-se ou de trazer progresso. Porque cada orbe tem a sua população específica que nasce ignorante, que vai crescendo de acordo com o que vai se descobrindo. Muitas vezes é necessário que seja dado uma injeção de progresso naquela humanidade, daquele orbe específico. Como isso acontece? Com a migração de espíritos mais inteligentes, que já desenvolveram uma cultura, uma tecnologia, para que os encarnados naquele orbe começarem a despertar a tecnologia e a ciência. É o que aconteceu em vosso mundo.
A humanidade estava em um estágio quase que estacionário de desenvolvimento tecnológico e intelectual, desenvolver-se-ia, mas levaria muito mais tempo do que o necessário, então a espiritualidade maior organizadora do Universo migrou estes espíritos de outras civilizações para que aqui desenvolvessem a ciência e a tecnologia, o arado para que pudessem então a sociedade ir crescendo e com isso também a humanidade.
Com isso vieram muitos degredados, espíritos endividados com a lei que já não mais cabiam nas vibratórias de um mundo que se modificou. Então pra cá vieram muitos espíritos endividados com a lei, muitos espíritos violentos, pecadores, mas com conhecimento e inteligência maior de quem aqui habitava e juntando essas duas populações; desenvolvia-se a menos inteligente para que pudesse então crescer. Com isso veio à violência, com isso vieram todas as maldades, mas também veio o progresso.
Junto com esses degredados vieram, também, espíritos do bem, porque não podiam trazer para o mundo de vocês somente espíritos degredados, necessário também trazer espíritos que usassem a inteligência para algo bom. E é nesta mescla que começaram as varias divisões de clãs do ser humano, encontrando uma pequena cidade aqui, uma aldeia ali, descobre-se o fogo acolá, uma ferramenta em outro lugar.
Com a migração da própria população do mundo Terra, esses ao se encontrarem dividiam conhecimentos ou guerreavam, mas é nesta ebulição que o progresso acontece. Pois então como se diz, Entidades que hoje são caboclos, são Pretos Velhos até Orixás, não se desenvolveram somente neste mundo, já vêm de todo um outro caminhar de outras civilizações, é um tempo que retorna a tempos ainda mais antigos que o vosso próprio mundo. Então é isso, é assim a história de muitos que estão aqui, inclusive nós viemos, também fomos trazidos para trazer progresso e desenvolvimento e fomos nos ambientando. Hoje, para com o mundo de vocês foi desenvolvido todo um carinho, uma responsabilidade, mais tempo angariando, depurando o passado, de pecados e atrocidades e passando a observar o ser humano natural do mundo Terra como filhos praticamente, vos orientando e impulsionando.
Ainda hoje encontram-se homens violentos daquele tempo, porque o despertar do espírito não tem uma hora, é o sofrimento muitas das vezes que faz acordar para que possam começar a galgar. Esclareci sua duvida?
Lúcia: Sim senhor. Então eu queria perguntar também, o senhor teve uma encarnação como Caboclo?
Sr Sete Montanhas: Me apresento para vocês, na vestimenta de um Padre, de um Padre Jesuíta que desembarcou na terra de vocês, como todos os Jesuítas para espalhar, trazer a palavra de Jesus aos povos do além mar. Porque a Coroa Portuguesa e a própria cúria Romana, tinham uma necessidade de espalhar a palavra de Jesus para todos os povos selvagens do outro lado do oceano, porque o catolicismo como os filhos conhecem iniciou-se nas terras antigas da Europa. Todo poderio religioso e econômico caminhavam lado a lado, como ainda caminham no mundo de vocês. Era necessário levar as palavras de Jesus aos povos selvagens, não somente para levar a palavra de Jesus a povos que muitas das vezes praticavam canibalismo, praticavam rituais de sacrifícios, levando o progresso aquela gente. Mas sempre quando o homem se envolve existe também interesses políticos e econômicos, também muitos padres vieram para representar a coroa de seu país e a própria igreja, tomando conta de um pedaço de terra, buscando extrair seus minérios, buscando estender seu poder. Então existia sim, todo um interesse econômico e político por trás de tudo isso, dando uma aura religiosa à evangelização dos selvagens.
O nascimento deste padre que vos fala se deu nas terras de Portugal, na Região do Aveiro, este era o mais novo de uma família e o filho mais novo era dedicado, o que vinha com a missão que lhe era imposta de ser um religioso. Desta forma fui educado para o clero, apesar de não ter tanta inclinação para isso. Mas a imposição da família, o poderio econômico forçou-nos a uma obediência das expectativas parentais. Então fomos estudar na universidade de Lisboa, depois ingressamos para a Ordenação Sacerdotal, abraçamos então a causa da Ordem Jesuíta, que exigia pessoas letradas, pessoas de boa família, pessoas inteligentes. Também todo um preconceito direcionava as Ordenações. Então nossa missão foi de desembarcar nas terras deste lado do oceano para educar silvícolas. E assim fizemos. E aqui desembarcamos por meados do mês de agosto de 1584. Então quando aqui chegamos iniciamos nosso trabalho nas terras do lado de cá. Iniciamos o trabalho de criação de cidades e vilas e todo o povo que vivia nas circunvizinhanças das vilas Jesuíticas que se dedicavam efetivamente à disciplina; prosperava. Com o passar do tempo, alguns Jesuítas passaram a defender o povo da terra e foi por isso que muito tempo depois a Ordem Jesuíta foi expulsa de vossa terra para depois retornar, mas deixando todo um legado de um aprendizado. E foi então nesta terra, vendo a necessidade dos negros da terra , é que demos valor aquilo que abraçamos enquanto religiosidade. Educando crianças, cuidando da saúde de muitos índios que pereciam com as enfermidades que o branco trazia. Muitas das vezes interferindo, negociando nas guerras intertribais, porque muito tempo demorou para que as tribos brasileiras entrassem em acordo, porque guerreavam constantemente por espaço, porque por serem nômades, quando terminava o alimento de um lugar, buscavam em outro, muitas vezes já tinha uma outra tribo lá então necessitava expulsarem aquela. Então praticavam atos já não condizentes com o que a religiosidade cristã pregava. E ai os Jesuítas desenvolveram então cartilhas de catolicismo nas línguas várias declinações do Tupi Guarani de forma a se comunicarem com os índios. Muitas missas até eram realizadas na linguagem dos índios nativos para que pudessem compreender o que se fazia e assim que era o trabalho do Padre Jesuíta.
Lúcia: O senhor disse que houve um período em que os Jesuítas foram expulsos. O senhor retornou para Portugal?
Sr Sete Montanhas: Não, jamais retornei a terra natal. Aqui desencarnei. Nesse trabalho com os Silvícolas me envolvia com várias famílias, então optei por não voltar a Portugal, até porque a expulsão se deu anos depois do nosso desencarne. Nosso desencarne como Padre, se deu depois de anos de trabalho, sendo capturado por outra tribo, depois fomos resgatados e voltamos para a vila, mas a saúde já se encontrava depauperada pela fraqueza da falta de alimentação, viemos então a desencarnar por enfraquecimento geral do corpo, por volta de 45 anos de idade na terra de vocês. Quando desembarquei aqui contava 29 anos.
Lúcia: Quando o senhor veio para realizar esse trabalho?
Sr Sete Montanhas: Sim. Então depois do desencarne, passamos a habitar o astral brasileiro, onde também já habitavam vários outros espíritos desencarnados de outros estrangeiros e índios, e ao reencarnarmos, reencarnamos em uma tribo Indígena. Na mesma tribo que havia nos capturado.
Lúcia: Isso depois desse seu trabalho como Jesuíta?
Sr Sete Montanhas: Sim.
Lúcia: Sim senhor entendi. E nessa tribo como era o seu trabalho?
Sr Sete Montanhas: Abracei todo o esquecimento da vida sacerdotal para uma outra vida, fui criado dentro dos moldes da tribo, quando criança, enquanto não dormia aprendia os afazeres. As mães cuidavam, depois tinha uma iniciação nos afazeres masculinos de guerra de cuidado com a tribo, mas o trabalho Jesuítico continuava, depois de despertado lembranças reencarnatórias nos aproximaram mais uma vez da fé católica. Tornamo-nos então o que vocês chamam de caboclos que é o índio manso, já é o índio que já foi domesticado. É por isso que se chamam caboclos, não são selvagens, são todos caboclos. A palavra caboclo indica um índio ou um filho de índio que tem acesso, que transita, que circula pela cultura branca, porque foi aculturado, não perdeu suas raízes, mas já fala o português, já senta-se a mesa, presta trabalhos domésticos, mas não deixando suas raízes, é um índio manso. É isso que significa a palavra Caboclo.
Lúcia: E essa reencarnação como Caboclo teria sido em que período?
Sr Sete de Montanhas: Eu tive 21 anos de existência como caboclo, tendo inicio em 1601 e depois encarnei como escravo.
Lúcia: Ainda depois de caboclo?
Sr Sete Montanhas: Sim.
Lúcia: Eu tinha a impressão de que a sua encarnação como Padre teria sido a sua última encarnação.
Sr Sete Montanhas: Assumi esta vivência de índio para que pudesse até ter esta vestimenta, mas utilizo muito, mas a aparência de Padre nos trabalhos. Que foi de onde retiramos todo o trabalho de dedicação efetiva a quem nada conhece, de levar toda essa palavra de esclarecimento.
Lúcia: Onde e quando se deu sua encarnação como escravo? Como foi sua experiência nessa encarnação?
Sr Sete Montanhas: Se deu na região entre o litoral e interior da Bahia, trabalhando na lavoura, mas nessa encarnação com lembranças reencarnatórias de orientação de liberdade, como escravo não tendo acesso a qualquer instrumento de melhora intelectual, utilizava a inteligência, a capacidade de expressão como alguém que se opunha à situação de escravo, foi por isso que cedo mutilaram esse escravo que, imprestável para o trabalho, veio a desencarnar inválido, sem poder ambular .
Lúcia: Essa seria sua ultima reencarnação?
Sr Sete Montanhas: Sim.
Lúcia: E quanto ao seu trabalho em nossa casa?
Sr Sete Montanhas: Entre encarnações, tudo aquilo que o ser humano aprende, também dentro da sua índole vai se pré dispondo ao trabalho espiritual, todo movimento espiritual, da formação das religiões, da ampliação da consciência do ser humano, com o trabalho de doutrinação fomos atraídos pelo trabalho espiritual da formação desta nova religiosidade.
Observando o ser humano se interessar pela religião africana e gradativamente tentando conhecê-la e concebê-la, acompanhando o desenvolvimento mediúnico, a vinda da própria doutrina européia, do Espiritismo, se envolvendo, observando a dificuldade do ser humano em lidar com a mediunidade e com a espiritualidade. Dessa forma que fomos nos envolvendo e criando a identidade de caboclo baseado nas experiências e nas lembranças das reencarnações.
Lúcia: Embora de uma maneira diferente, o senhor continua exercitando a tarefa de doutrinar como foi enquanto sua encarnação como Padre.
Sr Sete Montanhas: Isso é porque ninguém foge à sua essência.